quarta-feira, 22 de maio de 2013

Análise da Conversação

Análise da Conversação
 


A presente atividade foi realizada pelas alunas do primeiro semestre do curso de Letras, a pedido da professora Dra. Joana Ormundo, visando comparar e analisar o corpus de uma conversa.

Este corpus foi gravado, enquanto efetuávamos uma visita de reconhecimento ao Centro Cultural São Paulo, em 10/05/2013.

Considerando tudo que foi lido e estudado até aqui, verifica-se que o texto escrito, por estar situado no espaço, pode ser reescrito e revisado inúmeras vezes, se utilizando da linguagem formal, informal, culta, científica ou outra mais adequada ao contexto.

O mesmo, a princípio, não acontece com a fala. À exceção de um discurso programado (palestras, por exemplo), não há tempo para revisões. A fala está situada no tempo, é dinâmica.

O desempenho linguístico na fala não se serve apenas da gramática e do léxico da língua, mas lança mão dos mais variados recursos, sejam eles verbais ou não. No caso da língua portuguesa falada no Brasil, essa obviedade é intuitiva, pois pouco se sabe entre nós sobre seu real funcionamento. Menos ainda sobre os processos conversacionais.

O objetivo da análise conversacional é explicitar as regras que sustentam o funcionamento das trocas comunicativas de todos os gêneros, decifrar a "partitura invisível" que orienta (sempre deixando uma ampla margem de improvisação) o comportamento daqueles que se encontram engajados nessa atividade polifônica e complexa que é a condução de uma conversação (Kerbrat-Orecchioni, Catherine. Análise da conversação: princípios e métodos). 

A rigor, a AC é uma tentativa de responder a questões do tipo: como é que as pessoas se entendem ao conversar? Como sabem que estão se entendendo? Como sabem que estão agindo coordenada e cooperativamente? Como usam seus conhecimentos linguísticos e outros para criar condições adequadas à compreensão mútua? Como criam, desenvolvem e resolvem conflitos interacionais?

A relevância da atividade se verifica ao compreender como os textos de fala são produzidos, contextualizados e como os marcadores conversacionais ocorrem de formas diferentes na modalidade oral e escrita.

Na Análise da Conversação não se pode empregar as mesmas unidades para a língua escrita. Existem relações estruturais e linguísticas entre a organização da conversação em turnos (marcados pela troca de falantes) e a ligação interna em unidades constitutivas de turnos. Isso sugere que os marcadores do texto conversacional são específicos e com funções tanto conversacionais como sintáticas.

 
 
 
Transcrição da conversa
 
 
A: Então ela falou que:: com relação a/eu expliquei, eu falei assim, ó aqui nesse primeiro item eu lembro bem quando a Bianca parou e perguntou/ela falou assim  "mas porque você se deu nota dois?" eu falei "ah, eu me dei nota dois porque:: eu levei em consideração...
D: ela tá filmando a [gente
A:                             [o último... Ah VÁ! ((rindo))
D: pessoa curiosa... ((rindo))
A: (ininteligível) é.. eu me dei nota dois porque levei em consideração o lance de... ah, "superou as expectativas", eu não superei as expectativas, principalmente no quesito criatividade, eu faço o básico da sala, o sofrível, (ininteligível) , em termos de criatividade, agora se já vem com alguma coisa, algum projeto pronto, alguma atividade já pronta, ai eu me esmero mais em... aplicar da melhor forma possível né, pra que as crianças possam entender (ininteligível), ai ela falou assim "então, pois é nesse caso é:: você não é boa em criatividade, mas você se esforça, sabe tem iniciativa, se esforça, pra fazer bem feito o trabalho, então você devia ter colocado aqui uma nota... três ou quatro", ai ela foi explicando algumas coisas tal tal...
D: Ela deu justificativa (ininteligível)
A: É, pelo que as meninas falaram assim, é:: (ininteligível) tá tudo certo, nesse sentido assim sabe, vê quem trabalha direito, acho que ela é bem... que ela é bem justa, e quem trabalha, quem realmente trabalha, quem faz o que, então acho que isso ela enxerga e procura ser mais justa o possível, ela exerga, ela exerga bem isso, pelo menos com relação assim a mim né, e::: ai ela foi falando... ai que que ela falou, minha pontuação máxima acho que foi cento e trinta e dois, o meu né, a minha avaliação e o dela deu cento ()
D: e ai soma as duas?
A: soma as duas, é: ... soma as duas ... eu sei que teve uma porcentagem lá que deu noventa e três por cento, agora eu não sei se é só a dela, ou se é a dela e a minha junto...
D: acho que é a sua nota porque me falaram que da Angela deu (ininteligível)...
A: então minha porcentagem foi noventa e três por cento... e a pontuação mesmo, de pontos que eu fiz, mais ela...
T: gente, onde será que eu deixei meu caderno... ah! ...
A: Tá aqui comigo, então... a pontuação mesmo tirei setenta e nove...
T: Tá servida?
D: (ininteligível)... dá pra saber  QUANTO é pra gente mudar de letra (ininteligível)
A: [[então, desse lance...
D: [[ou só ... (  ininteligível  )
A: desse lance de mudar de letra, pra/é... eles fazerem uma avaliação/tem uma avaliação administrativa também... então assim, eu entendi que... se te, que fazer... acho que até oitenta por cento, né, tipo assim..
T: alguém tá servido?
A: é...
T: Risole de Palmito? Aqui é mais caro quatro e vinte...
A:   ...        Só o [salgado?
D: Talvez seja,  [talvez seja mais gostoso
M: Devia ter comprado lá na UNIP
T Pois é, não vou falar mais mal da UNIP
A: Então eu acho que é::: Eu sei que é assim...
T:  Do que [[você tá falando?
A:              [[Tem que ficar em vinte por cento... da avaliação, auto avaliação que foi feita lá na empresa
T: A avaliação da empresa ou da escola?
A: Não da empresa, onde a gente trabalha, que é uma avaliação que todo estado faz, todo funcionário público...
T: Você trabalha com que?
A: A gente trabalha na creche do servidor público...
T: ah, por isso que cê é doida
A: nossa, obrigada
D: ah ((tosse)
A: Ri, pode ri Nilda, [[...ria
D:                              [[Eu trabalho junto com ela...
T: Não,  trabalhar com criança não é fácil
D: Viu, eu trabalho junto com ela e nem por isso eu sou tão...
A: mas tá, cê tá indo pelo caminho... sentiu né... sentiu a pegada...
D: ahã
A: se é doida... () ...não obrigada ...((rindo))
D: ((rindo)) a pessoa tá filmando tudo hoje....
A: Então ai::: .... sei que você tem que fazer mais de oitenta por cento, que é pra voce entrar nos vinte por cento selecionado, pra pode ir pro sorteio do bônus, tem um bônus por avaliação
T: Não, dá liceça um pouquinho, eu comprei ...eu falei assim" eu quero um...", só tinha um risole, "é risole de palmito", "é", daí o rapaz "não é de queijo", "ah, tudo bem pode ser", não é de queijo, é de calabresa com queijo...
D: Ah! Nossa!
A: se você é vegetariana, cê tinha tido uma síncope agora!
D: aqui ó... come quase até o final, só deixa um pedacinho com recheio e volta lá pra mostrar e vê se ele dá outro...
T: uhum
D: Né, direito do consumidor...
_______
 
Consideração Final

Desta transcrição, conclui-se que a dinâmica da fala obedece a um entendimento contextual e semântico mutuamente construído ou inferido de pressupostos cognitivos, étnicos e culturais, partilhado entre os interlocutores, e que se adequa perfeitamente para a interação entre as partes.

2 comentários:

  1. Olá,
    Primeira experiência com o blog como espaço de interação e construção do aprendizado, iniciando com a pesquisa sobre Análise da Conversação e as outras atividades propostas pelo Laboratório de Linguagem.

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